quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Mra!

Ontem o túnel da realidade de Heinzkarlo intersectou a música "Mra" do grande grupo Brotherhood of Breath, liderado pelo músico sul-africano Chris McGregor. É um formato big band de influência africana intensa. Os músicos são os mestres do jazz sul-africano: Diyani, Feza, Pukwana...muitos metais: trompetes, saxofones, trombones. Ritmo, ritmo. Os trombones tocam uma pequena frase, nem chega a melodia, uma frase repetitiva que inclui uma terceira maior ascendente ligeiramente aumentada de um quarto de tom...este intervalo musical colocou Heinzkarlo num discreto transe que se prolonga para o dia seguinte...hoje! Assim, com esta música veio, por meio da deliciosa frase dos trombones, um conjunto de imagens do grupo Brotherhood of Breath a dar concertos, em manifestações supremas de Shakti musical. Alegria, dança, expansão, energia, vigor, luz, riso, loucura. Tanto, num intervalo de terceira maior acrescido de um quarto de tom! Heinzkarlo experimenta no seu ser os efeitos dos antigos modos gregos...já o musicólogo Edgar Elgar chamava a atenção para este facto: os modos gregos são mais vivos do que se pensa. Dizer que os modos gregos correspondem às teclas brancas do piano (dó a dó, ré a ré, etc.) é uma simplificação abstracta desprovida de prática. Nas palavras de Venâncio Paganini: "Saber sem experiência é gelo fino".

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Om Namah Shivaia


Limarco de Susa, filósofo da escola Pitagórica, é conhecido por ter sido, provavelmente, o pior aluno de Pitágoras, que o expulsou da sua escola ao surpreendê-lo, um dia, embriagado, a fazer glissandos obscenos na lira monocórdica do mestre enquanto cantava a canção popular da época "Selene vem ao prado comigo". Echecrates, outro aluno de Pitágoras, refere na sua panaceia que Limarco "...comia feijões com deleite, e fumava ervas, advogando o mergulho na dualidade como condição prévia para o logos."
Pouco mais se sabe sobre Limarco, a não ser que, aparentemente, tinha o dom da abiquidade, ou seja, o dom de não estar em nenhum lugar num dado momento. A abiquidade é um dos fenómenos interessantes da época, tendo até Ameinias comentado, no seu principia finis, que a verificação deste dom é extremente difícil; de facto, é quase impossível provar que alguém não está em nenhum local. De acordo com este autor, a única maneira de o fazer seria arranjar alguém com o dom da ubiquidade, para cobrir com a sua visão todos os pontos do mundo, e verificar que o sujeito não estaria, realmente, em nenhum local (este é o chamado Teorema de Ameinias). Assim, a abiquidade aproxima-se do milagre da divisão dos pães, frequente na antiguidade clássica, em que géneros alimentares (tipicamente, pão) são reduzidos drasticamente em número. Nas margens do lago Tiberíades, Asdrúbal, o louco, reduziu as reservas de pão de um conjunto de peregrinos a Siwa à sua décima parte, tendo sido linchado sumariamente.
A razão porque a abiquidade se aproxima da divisão sos pães é que muitas vezes o que acontecia era que os pretensos milagreiros simplesmente roubavam os géneros.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Teorema de Pitágoras

Chegou-me uma encomenda de discos do Stockhausen. São obras recentes, de 2005 e 2006: Naturliche Dauern, ou Durações Naturais, para piano; Cosmic Pulses, música electrónica; Freude, Alegria, para 2 harpas. O que mais me toca nesta música é uma qualidade bem expressa pela palavra inglesa otherness. Não é só questão de serem originais no contexto da Música. São originais mas além disso exprimem manifestações do Outro, do Intangível.

No outro dia fui ver com a Vanessa Champallimaud um concerto da banda Hermes. É uma banda ecléctica, que tanto toca música na veia de Sun Ra ou Bernhard Lang, como Rock, Blues ou outros ritmos. É composta por guitarra, baixo, bateria, sax tenor, sax barítono, trompete, e um coro de 3 babes, as Hermesetas. Gostei particularmente do ska com refrão

Yab Yum, Kangi Ten
Yab Yum, Kangi Ten
Yab Yum, Kangi Ten
Give me your love baby if you can

Fartámo-nos de dançar, inclusivamente ao som de música electónica ultra-dissonante.

Devo dizer que o conceito de ultra-dissonância é um pouco o Yin aonde a ultra-consonância será o Yang. Pode-se argumentar que nenhum destes dois conceitos faz sentido, mas não deixam de ser conceitos interessantes por isso.

Poderiamos pensar que o efeito físico que tem no ser humano a audição de um intervalo, por exemplo, de quinta perfeita - o que produz a sensação agradável de consonância - poderia ser intensificado, possivelmente em algumas condições atmosféricas ou psicotrópicas. Este efeito seria a sensação de ultra-consonância, o que faria do intervalo ouvido nesta situação um intervalo de quinta mais que perfeita. Pitágoras não gostaria, é certo. Mas o filósofo já sabia que a raiz de 2 não é um número racional, portanto talvez não se incomodasse tanto assim...

Depois do concerto fomos jantar javali ao Adro.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Sidi Baqal

Há uns tempos, iamos eu, a Karima e o Mukhtar a passear de carro, entre Jajouka e Chefchaouen. O objectivo era comprar jelabas, que as há em Chaouen de boa qualidade, boa lã.

A estrada tinha (e tem) trechos bastante maus, chegando mesmo a não existir estrada de todo. Assim, andavamos bem devagar, o que era bom para ver as belas vistas.

Quando passamos perto de uma certa aldeia, o Mukhtar disse:

- Ali era a festa do santo Abdellah Baqal. Os musicos costumavam ir lá tocar.

Como me interesso pelas origens e tradições das músicas das confrarias místicas de Marrocos, nomeadamente a de Jajouka, perguntei logo:

- Ai é? Já não existe essa festa?
- Já não, a confraria de sidi Abdellah Baqal já não existe. Acabou hà uns 30 anos. Mas nós muitas vezes tocavamos com eles.

Nesse momento, visualizei músicos, vestidos com jelabas castanhas e turbantes brancos de pano, tocando rhaita, sentados num círculo. Seriam perto de 10. Tocavam uma música muito diferente da de Jajouka, feita de longas suspensões e belos ornamentos na mudança de notas. O temperamento destas músicas não tem nada a ver com o temperamento igual, produzindo belos intervalos. O intervalo de terceira menor descendente tocado por estes músicos, polvilhado de um trilo, era maior que o standard, belo, mágico.

Na verdade, não me lembro se o nome do santo era Abdellah, mas tenho a certeza que o apelido era Baqal (com qof). Hei de perguntar ao Bachir.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Miya Rhaita, miya Tbila

Uma boa tarde, uma boa manhã.

O professor Bonga Brahms, do IST, teve o cuidado de me chamar a atenção para o facto de que o culto à deusa Astarte existiu, comprovadamente, em Cartago. Foi adorada em conjunto com a deusa Tanit. Agradeço ao prof. Brahms.

Outra imagem pseudo-mediúnica que por vezes ocorre é a de músicos vestidos de branco, com turbantes brancos, a tocar raita, ou tebel, em vários pontos de uma escarpa. Como é que eles subiram para cada ponto não sei. Seriam cerca de 20 músicos, a uma distância mínima de 5 metros entre si, tocando uma obra extremamente complexa, a nível melódico e rítmico, e dispostos verticalmente num precipício com cerca de 20 metros de altura. Aparentemente, tocam para algum convidado, gordo e importante. Quem conhecer a obra Hamza oua Hamzin (55 em árabe) dos mestres músicos de Jajouka, terá uma ideia da obra tocada nesta visão.

O nome Hamza oua Hamzin tem a ver com o facto de haver um loop rítmico com o valor de 55 semínimas, é como se fosse um compasso de 55 por 4. Nesta ordem de idéias, a obra tocada na escarpa teria o nome 237. Alguém sabe dizer 237 em árabe?

A propósito da bela espacialidade da obra 237, gostaria de lembrar que o compositor Mathias Spahlinger tem uma obra, de seu nome Furioso, em que os músicos tocam como se entrassem e saissem do palco num carrinho com rodas (um carrinho por músico), isto a nível da dinâmica. Era interessante uma obra em que os músicos se deslocassem no espaço a três dimensões. Neste sentido vale a pena ouvir concertos no Acusmonium em Paris, onde os sons são projectados a 3 dimensões. Ou pelo menos vale a pena pensar nisso!

Um abraço, em Tanit

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Aleph Trance num ritual pré islâmico

O nosso Aleph Trance foi visionado num ritual dedicado à deusa Astarté, numa cidade no norte de África. Não há qualquer registo do culto desta deusa no norte de África, o que torna este visionamento ainda mais interessante. Passamos a citar o oráculo de Hein:

"Na era na outra era era deus ou deusa o além, no vislumbre do sagrado, por trás da cortina transparente, situação Refluxus. Salud Refluxus! A deusa mãe trouxe o amor aos seus filhos no sétimo dia da colheita. Os hajim dirigiram a procissão cobertos de sedas brancas e ouro, flores ornando seus crâneos. De seguida, os eunucos da Deusa dançam o êxtase, chocalhos nas mãos, faces pintadas, saias brancas e azuis. Seguem-se os notáveis da cidade, reis dos homens e seus irmãos em Astarté, o grande Juhuba despido carregado no trono da luz pelos escravos do sol nascente. As tropas sempre sujas e ferozes, o ferro e a espada. EIA os sacerdotes trazem consigo a Deusa EIA Homens santos cobertos de folhas miram os horizontes e falam com o outro lado, ninguém lhes toca. Os músicos da confraria , cem rhaita cem tbila cantam a voz da deusa, para grande alegria do povo ABLANATHANAHTANALBA"

Esta procissão, descrita no oráculo de Hein, corresponde às visões pseudo-mediúnicas de Heinz Karlo, que, entre os gordos eunucos da deusa, vislumbrou Aleph Trance dançando em êxtase, com um sorriso louco, de óculos de armação de plástico, imagine-se! Isto algures em 600 a.c. ! Os óculos estão impossivelmente situados na ponta do nariz de Aleph, que bate um tamborim cantando "EIA EIA Asthartata" e dança com movimentos alquebrados.

É típico do nosso amigo Aleph Trance, ainda à pouco visto em situações comprometedoras com Gizelda Boulez, que agora visite um grupo de eunucos da deusa. Como diria Robert Anton Wilson: All Hail Erisia!